O título acima é uma condenação ou uma libertação?
Pilar tinha quase sessenta quando decidiu se separar.
O chamado Divorcio Grisalho.
Ela lembra muito bem quando contou para uma vizinha nesses encontros promovidos pelo condomínio e recebeu como resposta: Que coragem! A essas alturas do campeonato, depois de todos os desafios superados, filhos criados, eu não mais, eu só toco adiante.
Pilar só pensou: Não querida vizinha, não é coragem, estou morrendo de medo. É só o limite mesmo, cheguei no limite de sofrimento, rejeição, submissão a uma relação que fazia bem a só uma das partes.
Nem Pilar, nem a vizinha poderiam supor que mais difícil que tomar a decisão é o que vem depois.
Umas das coisas difíceis é se deparar com uma casa que não faz mais sentido, lembrar das coisas que deixou de fazer para que aquela casa viesse a existir, decidir qual parte de uma história vai para o lixo ou para o brechó, para os funcionários ou para amiga.
É aí que você se depara com a realidade que a gente se esquece: Experiências, valem mais que coisas.
Sabe aquela jaqueta linda que você comprou nos cafundós do mundo e você guardou, não emprestou, brigou com seu filho quando ele veio com a mão toda suja te abraçar? Sabe ela? Vale nada. Como assim vale nada? Sim a moça do brechó chiquezinho/hipster disse sem o menor constrangimento, que não vale nada, sim que você foi uma idiota servindo de guardiã daquelas peças que julgava serem um achado, afinal quanto vale uma peça comprada numa ilha perdida na Índia, vendida por uma moça colorida por tecidos no corpo e corantes no rosto que indicavam suas escolhas religiosas e sociais? Quanto vale? Nada. Valeu pra você que viveu, que olhou nos olhos lindos daquela moça e quase desfaleceu com a beleza daquela ilha, não tem o mesmo valor para aquela mocinha nascida depois dos anos 2000 cansada de atender senhorinhas que pensam que a camisa do filho comprada décadas atrás seja um achado arqueológico fashion.
Sabe aquele candelabro de Cristal feito na Thecoslovakia que hoje é Republica Theca? Então é mais um nada num mar de nadas que ela carregou em várias ecobags encardidas para chegar até ali. .
Foi aí que ela teve uma idéia de ela mesmo vender a sua história, não que isso traria lucro, mas pelo menos ela conheceria a pessoa que levaria consigo um pouco dela, um pouco dos seus meninos, da sua vida boa e da menos boa também, um pouco do tempo em que ela tinha mais futuro que passado.
Foi lá com a cara e coragem, coragem pouca, porque coragem em abundância ela nunca teve. Pesquisou lugares, sim não poderia ser simplesmente um salão comercial com estacionamento fácil, afinal aquele espaço iria abarcar uma história, lugares remotos, lembranças vividas e vívidas.
Até que um dia se deparou com uma casinha pequena, poucos cômodos, cercada de verde, um balanço no jardim e muito potencial para ser um lugar amável, sabe estes lugares que você visita e pensa: Preciso trazer tal pessoa aqui? Então esse lugar era aquela casinha.
Pilar se animou. Negociou ela mesma com o proprietário, um velho branco e conservador que cargas d'água foi com a cara dela, uma velha mestiça e liberal.
Negócio fechado, Pilar lixou paredes, pintou, pregou pregos, chamou seu Zé pra instalar prateleiras, prateleiras essas que sustentariam objetos e seus significados.
Fez plaquinhas com frases simpáticas, instalou um mural para que as pessoas que chegassem até ali, deixassem um pouco de si também, numa simbiose maluca entre desconhecidos.
A fachada como será, qual nome será capaz de reduzir tanto significado? Pilar tem lá suas crenças, entre elas é de achar que as coisas que irão acontecer, já existem em algum lugar é só a gente acertar o trajeto.
Ah Pilar! Quanta força demonstras e serve como inspiração! Certamente herdou de sua ancestralidade e a construiu ao longo do tempo.
Lola, amo seus posts. Apesar de tê-la visto apenas uma vez, com a Margaret, e ler o antigo blog, sinto saudades de ti. Sucesso e bênçãos sempre❣️
Sua forma de escrever acessa um local dentro de mim, que sempre me deixa com uma lágrima nos olhos e um sorriso nos lábios ❤️
Eu gostaria q no mundo tivesse mais pessoas como Pilar...é tão corajoso ir frente com medo. Saudades de tu, Lola Bjs
Como sempre, inspirador!! Torço q Pilar acerte o trajeto e encontre todas as coisas boas q ela merece!! 😍